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Entendendo os exames e conceitos relacionados à escoliose

Atualizado: 5 de dez. de 2024


Cinco pessoas com tipos diferentes de escoliose
Tipos de escoliose

A escoliose é uma curvatura anormal da coluna vertebral que pode afetar crianças e adolescentes em diferentes graus de gravidade. Para um diagnóstico preciso e acompanhamento adequado, é essencial utilizar exames e ferramentas específicas que ajudam a avaliar as características da deformidade. Aqui, detalhamos alguns dos principais aspectos e conceitos.


 


Raio-X Panorâmico da Coluna Total em Posição Ortostática (PA e Perfil)

Raio-X panorâmico em dois planos diferentes
Raio-X específico para avaliação da escoliose

O raio-X panorâmico da coluna é um exame fundamental para o diagnóstico e monitoramento da escoliose. Ele deve ser realizado em posição ortostática (de pé), permitindo uma visão completa da coluna vertebral, desde o topo até os trocânteres (região próxima ao quadril).

  • Projeção PA (posteroanterior): Oferece uma visão frontal da coluna, sendo ideal para avaliar desvios laterais.

  • Projeção de Perfil: Mostra a curvatura natural ou anormal da coluna no plano sagital (vista lateral).

Se a criança ou adolescente já estiver em tratamento com o uso de um colete ortopédico, é importante que o exame seja solicitado para ser realizado com e sem o colete. Isso permite avaliar tanto o impacto do colete na correção da curva quanto o comportamento natural da coluna sem suporte externo.



Simetrógrafo


Fisioterapeuta avaliando paciente no simetrógrafo
Simetrógrafo

O simetrógrafo é uma ferramenta simples, mas poderosa, usada para observar as assimetrias do corpo. Ele auxilia no exame físico inicial, fornecendo uma avaliação visual e objetiva do alinhamento corporal. Essa análise ajuda a identificar deformidades posturais, como inclinações laterais e rotações associadas à escoliose.




Planos anatômicos e análise da escoliose


A escoliose é uma deformidade tridimensional, o que significa que ela afeta a coluna vertebral em diferentes planos. Compreender essas alterações é essencial para um diagnóstico detalhado:


  1. Plano Frontal (Coronal): Inclinação. No plano frontal, avalia-se a curvatura lateral da coluna. É nesse plano que identificamos a inclinação anormal para um lado, uma característica marcante da escoliose.


2. Plano Axial: Rotação: Este é um dos aspectos mais importantes para entender a escoliose. A rotação da coluna, vista de cima (através do raio-X axial), é a principal responsável pela formação da giba costal, uma protuberância que ocorre devido à rotação das vértebras e costelas. A análise do plano axial ajuda a determinar a gravidade da deformidade rotacional;


3. Plano Sagital: Extensão ou Cifoescoliose: No plano sagital, avalia-se o alinhamento da coluna de perfil. A maioria dos pacientes com escoliose apresenta uma retificação torácica, ou seja, uma redução na curvatura natural dessa região, resultando em uma postura mais "esticada". Em casos mais graves, pode haver uma combinação de escoliose e cifose, conhecida como cifoescoliose.



Por que esses aspectos são importantes?


O diagnóstico preciso e o monitoramento da escoliose dependem de uma abordagem tridimensional que considere todos esses planos anatômicos e métodos de avaliação. Cada exame e ferramenta, como o raio-X panorâmico e o simetrógrafo, têm um papel único e complementar no cuidado do paciente, ajudando a personalizar o tratamento e melhorar os resultados a longo prazo.



Ângulo de Cobb, Sinal de Risser e outros parâmetros essenciais na avaliação da escoliose


Quando falamos sobre escoliose, a avaliação detalhada é indispensável para garantir um diagnóstico preciso e intervenções apropriadas. Além do Ângulo de Cobb e do Sinal de Risser, outros parâmetros importantes, como os valores espinopélvicos e estratégias como o rastreamento escolar, desempenham papéis fundamentais na identificação precoce e no planejamento do tratamento.


O Ângulo de Cobb: a medida do desvio

Mensurações do ângulo de cobb numa coluna em desenho
Mensurações do ângulo de cobb

O Ângulo de Cobb é o parâmetro padrão para medir a gravidade da escoliose em exames de raio-X. Ele é calculado traçando linhas paralelas às placas terminais das vértebras que marcam o início e o final da curvatura escoliótica. A interseção dessas linhas auxilia na obtenção do ângulo formado.


Classificação do Ângulo de Cobb

  • 10° ou menos: Curvatura considerada normal ou uma "atitude escoliótica";

  • 11° a 24°: Escoliose leve, geralmente tratada com exercícios específicos;

  • 25° a 50°: Escoliose moderada, podendo requerer o uso de colete;

  • Acima de 50°: Escoliose grave, indicada para intervenção cirúrgica em muitos casos.

Esse ângulo é monitorado regularmente para acompanhar a progressão da deformidade, especialmente em fases de crescimento rápido, como na adolescência.


O Sinal de Risser: um indicador de maturidade esquelética


Raio-X da pelve para avaliar risser
Risser

O Sinal de Risser complementa a avaliação do Ângulo de Cobb ao indicar o estágio de ossificação da crista ilíaca no raio-X. Ele é classificado de 0 a 5, representando desde a ausência de ossificação (Risser 0) até a fusão completa da crista ilíaca (Risser 5).




Por que o Sinal de Risser é importante?

  • Fase de crescimento acelerado: Durante os estágios iniciais (Risser 0 e 1), o risco de progressão da escoliose é maior, exigindo atenção redobrada.

  • Estabilização: Estágios mais avançados (Risser 4 e 5) indicam menor potencial de crescimento, o que pode reduzir a progressão da curvatura.

Meninas, a partir da menarca contamos 4 anos para definir o final do crescimento ósseo junto com o Risser 5. Após a menarca, a progressão da escoliose é cada vez menor, mais lenta até que se estabiliza e não evolui mais.



A combinação de Cobb e Risser na prática clínica


A análise conjunta desses parâmetros permite ao fisioterapeuta ou médico elaborar um plano de tratamento personalizado. Por exemplo, em uma adolescente com Ângulo de Cobb de 20° e Risser 1, o foco pode ser exercícios específicos e monitoramento frequente devido ao alto risco de progressão. Já em um adulto com Risser 5 e Cobb de 30°, a prioridade seria a manutenção funcional e prevenção de dor.



Valores Espinopélvicos: equilíbrio e funcionalidade


Os valores espinopélvicos ajudam a compreender a relação entre a coluna vertebral e a pelve, fornecendo informações sobre a biomecânica global do paciente. Eles são cruciais para avaliar o impacto funcional da escoliose e orientar estratégias de tratamento.


Principais parâmetros espinopélvicos

  • Inclinação pélvica (Pelvic Tilt – PT): Mede o alinhamento entre o eixo vertical e a pelve. Alterações podem indicar compensações posturais.

  • Incidência pélvica (Pelvic Incidence – PI): Um valor anatômico que indica o formato da pelve e influencia a lordose lombar.

  • Inclinação sacral (Sacral Slope – SS): Reflete a inclinação do sacro, diretamente relacionada ao posicionamento da coluna lombar.

Esses valores são avaliados em conjunto para entender o equilíbrio sagital do corpo, que pode estar comprometido em casos de escoliose. Um equilíbrio espinopélvico inadequado pode causar dores crônicas e aumentar o risco de progressão da deformidade.



Rastreamento escolar: a base da detecção precoce


A inclusão do rastreamento escolar em programas de saúde pública é uma ferramenta poderosa para detectar escoliose em seus estágios iniciais, quando as chances de progressão são mais altas.


Por que o rastreamento escolar é eficaz?

Pessoa em duas posições sendo avaliada
Teste de Adams

  • A escoliose geralmente se desenvolve em fases de rápido crescimento, como na adolescência, momento em que as crianças passam grande parte do tempo na escola.

  • Profissionais de saúde ou professores treinados podem identificar sinais como assimetria nos ombros, escápulas, costelas ou quadris.

  • O Teste de Adams, realizado no ambiente escolar, é uma abordagem simples e eficaz. Crianças com suspeita de escoliose podem ser encaminhadas para avaliação médica ou fisioterapêutica detalhada.


Implementar campanhas de conscientização e programas regulares de rastreamento em escolas pode reduzir significativamente os casos de escoliose não diagnosticada, permitindo intervenções precoces e menos invasivas.



A integração de parâmetros para um tratamento mais eficaz


A combinação do Ângulo de Cobb, Sinal de Risser, valores espinopélvicos e rastreamento escolar forma uma base sólida para uma abordagem abrangente à escoliose.


Por exemplo:

  • Em um adolescente detectado em um programa escolar com escoliose leve (Cobb de 15°), valores espinopélvicos dentro da normalidade e Risser 0, o plano incluiria exercícios específicos e acompanhamento regular devido ao alto potencial de progressão.

  • Já em um paciente adulto com desequilíbrio espinopélvico e Cobb acima de 50°, as estratégias podem incluir fisioterapia avançada e até mesmo avaliação para intervenção cirúrgica.



O papel preventivo da fisioterapia e da conscientização comunitária


Além da correção postural e do fortalecimento muscular, o fisioterapeuta desempenha um papel educacional essencial. Informar pais, professores e a comunidade sobre os sinais de escoliose e a importância da avaliação precoce pode transformar o manejo dessa condição.

Combinando ciência, prevenção e educação, podemos reduzir os impactos da escoliose na vida de milhões de pessoas e promover uma abordagem mais saudável e consciente para o cuidado da coluna.



Para saber mais sobre escoliose e suas progressões, veja esta matéria com detalhes sobre o assunto: Escoliose: a importância da detecção precoce e conscientização


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