O que é artrose e como tratá-la?
- Luciana Fernando Davi
- 12 de mai. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de jan.

Muitas pessoas me perguntam o que fazer quando descobrem que têm artrose. Minha resposta é sempre a mesma: depende...
Do que, exatamente? Da pessoa a quem estamos falando.
Se você tem artrose, é preciso saber algumas informações importantes sobre quem você é, e o que você faz no seu dia a dia. Você é atleta? Sedentário? Trabalha? Estuda? Qual sua idade? Temos que levar em consideração inúmeros aspectos da vida de uma pessoa para orientá-la da melhor forma possível.
Afinal, o que é a artrose?
Artrose (osteoartrose, ou osteoartrite são a mesma coisa), nada mais é que um desgaste da articulação. Esse desgaste é impactado diretamente da cartilagem, nas extremidades ósseas. Mas já adianto que ela NÃO É uma doença, e sim uma condição totalmente NATURAL em todos os animais – principalmente em seres humanos, uma vez que evoluímos em espécie mais rápido do que nossa “carcaça” suporta.
Começamos a ter essa degeneração – desgaste – da cartilagem após os 35 anos de idade, em média. Isso acontece pelo início da perda de colágeno – proteína que compõe a cartilagem e tantos outros tecidos -, tanto externa, quanto internamente.
Artrose é tão natural quanto aos nossos cabelos brancos!
Nossa evolução.
Nos tempos primórdios, andávamos curvados e usávamos muito os mais os braços, inclusive para nos locomover. Nunca fomos quadrúpedes (como muito se falava antigamente, por uma teoria que viemos no macaco), mas como mamíferos que vivem em terra, adotamos uma posição parecida.
Com a necessidade de caça e colheita, fomos evoluindo para uma postura em 2 apoios e bem mais eretos. Com certeza, foi uma mudança com grande demanda para nossos corpos que estavam acostumados a distribuir o peso em 3 ou 4 membros e tronco, sustentando nossos órgãos abdominais com mais suporte de músculos em baixo dele – os músculos abdominais.

Os impactos da posição bípede
Olhe para a imagem acima e imagine você andando anos curvado. Até a posição bípede e ereta que vivemos hoje, nosso corpo se adequou em termos de estrutura, força e organização cerebral para receber estímulos nesta condição. Nosso campo de visão era mais baixo, nossa pele era mais grossa e a força nas mãos, braços e pés, que ficavam em constante contato com o chão, era maior.
E uma questão importantíssima: nossos movimentos e atividade física eram infinitamente maiores e mais frequentes. Antigamente, nos deslocávamos em média 15Km por dia.
Nossos pés eram musculosos, eram nossos “tênis de corrida”, precisavam absorver impactos, ter agilidade e terem até “calos” para suportar o piso áspero e irregular sem causar feridas e por consequência, infecções.
Força da Gravidade
Hoje em dia, a Gravidade impacta diretamente sobre nossas articulações. Nossa coluna ficava numa posição quase horizontal e hoje, na vertical. Nossas vértebras ficam empilhadas, quadril, joelhos e tornozelos suportam nosso peso, agora sem ajuda dos braços. Isso interfere na quantidade de força e impacto que essas articulações recebem.
Sem contar na pressão que nosso assoalho pélvico suporta por ser literalmente, o “chão” dos órgãos abdominais – bexiga, útero, intestinos, etc.
O exercício piora o desgaste nas articulações?
Não! É sabido, que o exercício reduz 14% a mortalidade, coisa que nenhum remédio faz! Qualquer exercício físico vai te trazer benefícios, seja de força, capacidade cardiopulmonar, ou psicológicos. A questão é: saber o limite do seu corpo.
Acho muito curioso o número de pessoas que me perguntam quando poderão começar a fazer alguma prática física justamente quando estão no tratamento de alguma lesão. É incrível como nos sentimos mal quando estamos impossibilitados de fazer algo, mesmo que esse “algo” não esteja dentro do nosso habitual.
Existem situações que devemos parar e perceber o quanto de demanda nosso corpo aguenta naquele momento; seja se recuperando de algo ou não. O exercício em exagero, ou seja, além do que nosso corpo suporta, certamente trará alguns ônus, e o primeiro a sentir esse excesso é o sistema musculoesquelético. Como tudo na vida, nada em excesso é saudável.
Do contrário, fazer atividades que você ganhe força, flexibilidade, condicionamento cardiopulmonar (de preferência que você goste), só te trará benefícios. Inclusive, aqui vai uma diga e a desmistificação de que o impacto da caminhada e da corrida – dentro da sua capacidade de demanda – AJUDA na reposição de cálcio nos ossos e deixa os discos da nossa coluna mais fortes e robustos!
Como melhorar o impacto nas articulações?
Ganhando força.
Nosso corpo adora se movimentar – por mais que você me diga que prefere ficar jogado no sofá assistindo séries e comendo pizza.
Ainda carregamos memórias primitivas de caçadores coletores. Se nos entregamos à vida com a facilidade de recebermos comida em casa, ficarmos o dia inteiro em Home Office e não dermos mais estímulos motores para ele, nós estamos condenados às dores que o desgaste da artrose nos dará. A inatividade excessiva é nitidamente prejudicial.
Quanto mais deixamos nossos músculos fortes, ligamentos, tendões e ganhamos mobilidade articular, mais saudáveis somos e menos sofreremos com esse desgaste natural.
Os diferentes graus de artrose:
A artrose pode ser acompanhada de dor ou não. Isso depende do grau que essa artrose se encontra:
Grau I: pequeno comprometimento da cartilagem. Pode ter presença de desconforto e inchaço eventualmente;
Grau II: até 50% da espessura da cartilagem está comprometida. A dor pode ser mais frequente e ter a sensação de rigidez na articulação. É comum ter indícios de formação de bicos de papagaio (osteófitos) como forma de proteção;
Grau III: mais de 50% da espessura da cartilagem degenerada. Dor mais incapacitante, perda de massa muscular e força pela falta de movimento dolorido. Aqui, começa a perda de independência.
Grau IV: há exposição óssea. Neste caso, todas as situações anteriores estão presentes com o acréscimo de deformidade fixa da articulação e perda a mobilidade, ou seja, a pessoa fica sem o movimento completo da amplitude de movimento das articulações afetadas.
Tratamentos:
Claro que o tratamento vai depender do grau em que a pessoa se encontra e o quanto de funcionalidade ela está perdendo. Esta, o fisioterapeuta quantifica com base numa avaliação e aplicação de questionários específicos, para que seja definido melhor tratamento. Veja abaixo algumas abordagens de tratamento:
Motora: exercícios específicos para ganho de força e mobilidade nas regiões específicas, de acordo com a estrutura e vida do paciente;
Sistêmica: Perda de peso (se houver sobrepeso), alimentação menos inflamatória, adequação do sono e manejo do estresse;
Medicamentosa: analgésicos, anti-inflamatórios, corticoides e injeção local de ácido hialurônico;
Cirúrgica: intervenções pequenas, médias e grandes, como prótese total – geralmente em grau IV.
Se observe, tenha consciência quando algo não está “normal” e busque orientação para que a independência e a funcionalidade estejam sempre presentes.
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